segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Resenha do texto: Universidade, Cidadania e Alfabetização


Autora: Professora Magda soares, Palestra proferida pela professora ao Conselho de reitores das Universidades Brasileiras, na 50ª Reunião Plenária, Belo Horizonte, março/1990.
Resenhista: Denise Machado Moraes. 
Santa Maria, dezembro de 2013.


O texto “Universidade, Cidadania e Alfabetização”, trás a reflexão sobre o papel da alfabetização na construção da cidadania, contextualizando o tema, apontando argumentos favoráveis e contrários a relação, alfabetização e cidadania, e nos fazendo pensar sobre a responsabilidade da universidade em relação a ambos os processos.
Primeiramente são apresentados argumentos negando, a necessária relação entre alfabetização e cidadania, onde se afirma que, a alfabetização não é imprescindível ao exercício ou à conquista da cidadania, e são apontados argumentos tais como: 
Que a concepção de que só quem é alfabetizado é capaz de agir politicamente, de participar, ser livre, responsável e consciente, ou seja, de ser cidadão, oculta mecanismos de exclusão e opressão. Onde a exclusão de agir e participar politicamente impõe limites ao exercício de direitos sociais, civis e políticos, que constituem a cidadania.  
Outra alegação que defende a negação da relação, alfabetização e cidadania, é a afirmação de que não é a alfabetização, nem a educação que conduzirá o povo a conquista da cidadania, mas sim a pratica social e política, dos movimentos de reação, reivindicação e participação do povo lutando por seus direitos políticos.
Estes argumentos de que a alfabetização não estaria diretamente relacionada a cidadania, ou que a segunda independe da primeira, em minha opinião foram vagos e generalizantes, onde retirou-se o foco do indivíduo analfabeto, e defendeu-se o valor do direito da participação do povo e dos movimentos sociais. Mas a questão principal, de que um analfabeto, é capaz de exercer seus direitos plenamente, principalmente o de voto, como qualquer outro cidadão, não foi abordada especificamente. Realmente acredito tratar-se de um tema árido, principalmente em nosso tempo, onde a inclusão de todas as formas é defendida a unhas e dentes. Mas até que ponto este indivíduo, que de certa forma vive a margem de nossa sociedade, e até de nossa era, dita “era do conhecimento”, consegue compreender os mecanismos políticos, diferenciar uma plataforma de governo de outra, e principalmente autodeterminar-se como cidadão? 
Aqui cabe salientar, que entendo assim, em relação a nossa sociedade, pois, em sociedades indígenas, sem a cultura escrita, até entendo que ser analfabeto, não prejudicaria em nada uma participação política, na escolha de seus caciques, mas como não é este nosso caso, e a sociedade em que vivemos, tem como base o conhecimento, a leitura, a escrita e a educação formal, não vejo como as afirmações negativas podem se sustentar. 
Pois pensar que um analfabeto é um cidadão pleno, seria o mesmo que afirmar que um analfabeto poderia se candidatar, pois, um cidadão pleno de seus direitos, pode votar e ser votado, mas o analfabeto podendo votar e não podendo ser votado, se torna um cidadão, pela metade, pelo menos ao meu modo de ver. Além do mais num pais, ainda coronelista como o nosso, onde são usados inúmeros modos ilegais e ilícitos para se conseguir votos,  é mais fácil nossos coronéis, mandarem analfabetos alistarem-se como eleitor. Do que investir massivamente na real alfabetização de nosso povo, para que este conquiste aí sim, sua liberdade, autonomia, e até o direito de decidir se quer votar ou não, o que hoje em dia não nos é dado. 
Quanto aos argumentos afirmativos, em relação a alfabetização ser instrumento na luta e pela conquista da cidadania, pode-se destacar afirmações como:
“De que não há possibilidade de participação econômica, política, social, cultural plena sem o domínio da escrita”; 
“E que o significado da alfabetização ultrapassa em muito a mera aquisição de uma “técnica”, pois saber ler e escrever são fundamentais na luta pela conquista de direitos, pela participação do poder e pela transformação social.”
De minha parte parece muito mais lógico, acreditar que a alfabetização esta sim relacionada ao exercício da cidadania, até por estar cursando uma graduação na área da educação e acreditar que é a educação a chave da liberdade do indivíduo, e do desenvolvimento humano. 
Além do que diante do atual estado de subdesenvolvimento de nosso país e dos altos índices de analfabetismo, me parece muito mais cômodo a nossos políticos, deixar tudo como esta, pois se o voto dos analfabetos os elege como o de qualquer outra pessoa, que vantagem nossos governantes tem em alfabetizar a população, por outro lado, duvido que se apenas os alfabetizados votassem, as políticas de alfabetização no Brasil, não seriam em muito maior quantidade. 
Na terceira parte do texto “Universidade, Cidadania e Alfabetização”, trata da participação da universidade em relação à cidadania e alfabetização, e sua responsabilidade de participar na construção de uma sociedade mais justa e constituição de uma identidade política para o povo brasileiro, descobrindo soluções para o combate ao analfabetismo, inserção da criança e do adulto na cultura letrada, tendo em vista que as soluções proposta até agora, tem sido “pseudo-soluções”, que ao invés de capacitar o indivíduo a cultura letrada, apenas o transforma em um analfabeto funcional, que não se apropriou verdadeiramente da escrita. 
Defendendo ainda que à universidade cabe buscar através da reflexão e da pesquisa, a produção de um conhecimento que conduza a uma alfabetização que possibilite o indivíduo a avançar na conquista da cidadania. 
Diante de todos os argumentos expostos, posso afirmar que em síntese não sou contra o direito dos analfabetos votarem, sou sim a favor do direito muito mais importante e fundamental deles serem alfabetizados, e do dever da universidade de assumir seu papel de protagonista nesta conquista, pesquisando e propondo meios para uma alfabetização mais abrangente e de qualidade.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Meninos de Rua


Resumo do artigo:
Questões sobre o desenvolvimento de crianças em situação de rua
De: Claudio Simon Hutz e Sílvia Helena Koller
Por: Denise Machado Moraes

Trata da contradição de algumas pesquisas que apontam que a situação de rua retarda o desenvolvimento da criança, enquanto outras dizem que não. Diante disto o CEP-RUA (Centro de Estudos Psicológicos sobre Meninos e Meninas de Rua)/UFRGS vem desenvolvendo vários estudos sobre o desenvolvimento emocional, cognitivo e social destas crianças. Os resultados destes estudos têm revelado que crianças em situação de rua apresentam altos níveis de stress e de exposição a riscos pessoais e sociais. Porém, constatamos que elas desenvolvem habilidades para lidar com o stress e com os riscos, compensando suas dificuldades com estratégias que exigem competência e autonomia.

Chama a atenção para a falta de modelos teóricos e pesquisa empírica sobre o desenvolvimento de crianças e adolescentes que vivem em situação de pobreza. A grande maioria dos estudos normativos sobre o desenvolvimento psicológico tem sido feita com crianças e adolescentes brancos de classe média.

O desenvolvimento psicológico, devido às experiências adversas a que estas crianças estão expostas, como adições, violência e exploração. Paradoxalmente, a vida na rua pode possibilitar experiências que se adicionam e promovem o desenvolvimento.

Crianças de rua têm sido descritas como marginais, doentes, violentas, sujas e delinqüentes. Exemplo disto foi o exercício onde foram testadas crianças em situação de rua e crianças que freqüentavam uma escola particular. Solicitado às crianças que primeiro desenhassem primeiro a si mesmos e depois de uma criança do outro grupo. As categorias observadas nos desenhos foram: expressão facial, presença/ausência de sapatos, de mãos, e de roupas, aparência geral (sujo/limpo), postura, cenário, acessórios e objetos nas mãos. A comparação entre os desenhos revelou muitos aspectos estereotipados. As crianças de rua foram representadas pelas de escola como sujas, negras, mal vestidas e sem sapatos, com roupas rasgadas, carregando drogas nas mãos e pedindo esmolas em esquinas, às vezes sentados ou deitados. As crianças de escola foram representadas pelos de rua como bem-vestidas e calçadas, limpas, de pé e carregando sacos de dinheiro nas mãos. Quando desenham a si mesmos, as crianças de ambos os grupos fazem desenhos de figuras humanas alegres, vestidas, limpas, com sapatos, sem objetos nas mãos, de pé e de frente e com acessórios. Estes resultados revelam a discrepância entre como as crianças em situação de rua se vêem ou gostariam de ser vistos e como são vistas pelas crianças das escolas.
Crianças em situação de rua são seres humanos em desenvolvimento, que podem apresentar algumas características psicológicas sadias, apesar das dificuldades impostas por um ambiente hostil. E usam de estratégias para superar essas dificuldades estabelecendo relações de amizade que sejam protetivas, mesmo que instáveis e erráticas, mas que possibilitem alguns cuidados mútuos e reciprocidade.
Os dados revelaram que os meninos recebem menos ajuda, transgridem mais as regras sociais e avaliam sua situação como mais crítica do que as meninas. Esses achados reforçam a posição de que cada sexo encontra estratégias de ação diferentes quando se deparam com problemas da mesma natureza e estão expostos a situações de risco diferenciadas.
Desenvolvimento Cognitivo de crianças em situação de rua
Os vários estímulos que a rua apresenta, exigem que a criança esteja atenta e preparada para manter a sua integridade física e sua sobrevivência.
conforme concluem Koller e Hutz (1996, p.14), "o viver na rua não impede o desenvolvimento de valores e não gera deficiências morais específicas em crianças e adolescentes".
Em um Projeto de Oficina-Escola, no qual mantinha Oficinas de Matemática, observou-se que os adolescentes com baixa escolarização e história de rua, tinham mais facilidade de aprender aritmética se fossem utilizados estímulos como moedas e dinheiro em geral. Com esta estratégia tornava-se mais fácil ensinar somas e multiplicações para os adolescentes. Neste mesmo Projeto de Oficina-Escola, observou-se que os meninos aprendem com muita facilidade a trabalhar com computadores. A música, por sua vez, tem forte relação com sua criatividade. A perspectiva de participar de um festival de rap estimulou-os a aprender a escrever, para inscrever as letras de suas músicas, apresentar-se e ganhar os prêmios. A utilização destas estratégias no ensino têm se revelado muito úteis com estas crianças e adolescentes.
Desenvolvimento emocional de crianças em situação de rua
Comparados os índices de depressão entre crianças de rua e de nível sócio-econômico baixo. Os resultados deste estudo mostraram que não há diferença entre estes grupos, ou seja, crianças de rua não são mais deprimidas do que crianças pobres que continuam vivendo com suas famílias e freqüentando escolas.
Do ponto de vista emocional, a saída de casa pode representar o fracasso total do apego que um indivíduo tinha com as pessoas de sua família e desta para com ele.
verificou que um terço dos adolescentes de sua amostra saiu de casa porque não tolerava a ausência física do pai. Revelavam que desde que o pai se foi e eles se tornaram adolescentes, o nível de exigência e cobrança para com eles tornou-se intolerável. Relatavam, em geral, que a mãe passou a exigir que eles assumissem o sustento da família no lugar do pai, papel para o qual eles ainda não se sentiam competentes.
Alguns deles referiam que saíram de casa, porque consideravam mais fácil, na sua idade, tomar conta de si próprios sozinhos na rua, do que ter que cuidar de toda a família.
Outro caso, de um irmão mais novo do que o menino que estava na rua, que revelou estar sofrendo abuso sexual permanente de sua mãe e padrasto, enquanto que seu irmão revelara ter saído de casa por não tolerar ser vítima de abuso. Um outro menino que, após relatar as constantes tentativas de abuso sofridas, afirmou: "um dia tomei uma atitude de adulto e saí de casa". Esta frase ilustra a hipótese de que a saída de casa pode ser resultado de fortalecimento de um indivíduo resiliente, que prefere sair às ruas e buscar a sua própria sobrevivência do que se submeter aos abusos dentro de casa. Os irmãos que ficam podem ser mais vulneráveis do que eles. Na presença destes relatos.
Os achados destas pesquisas têm sido utilizados na promoção de programas de prevenção e intervenções na comunidade. Uma alternativa para a casa que garanta a sobrevivência e a segurança para os(as) meninos(as) que estão na rua deve ser encontrada, uma vez que a rua, apesar de desenvolver alguma sabedoria não é o lugar ideal para qualquer ser humano viver.
Desenvolvimento físico de crianças em situação de rua
Seria também fundamental investigar que processos ou variáveis psicológicas protegem algumas dessas crianças, permitindo ajustamento emocional e o desenvolvimento da competência social, apesar das circunstâncias extremamente desfavoráveis em que vivem.