quinta-feira, 10 de abril de 2014

Denise Machado Moraes.
Apreciação do texto: A PERTINÊNCIA DA TEORIA DE PIAGET PARA COMPREENDER OS PROCESSOS DE AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA

FERREIRO, Emilia e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Emilia Ferreiro e Ana Teberosky; trad. de Diana Myriam Lichtenstein, Liana Di Marco e Mário Corso. Porto Alegre : Artes Médicas, 1985. (p.25-32)

O texto “A pertinência da teoria de Piaget para compreender os processos de aquisição da leitura e da escrita”, destaca as lacunas existentes na literatura sobre a aprendizagem da língua escrita, apontando que existem basicamente dois tipos de trabalhos: os que visam difundir uma ou outra metodologia como sendo a solução para todos os problemas; e os trabalhos que listam as capacidades ou aptidões necessárias envolvidas nessa aprendizagem; nos trazendo a reflexão e apontando novas formas de ver o processo de alfabetização.
Quanto as teorias dedicadas a estabelecer a lista das aptidões ou habilidades necessárias para aprender a ler e a escrever, o autor do texto as vê como insatisfatórias, pois estas veem o sujeito da aprendizagem quase como um objeto, onde se o objeto esta bem, o mesmo esta apto a aprender a ler e a escrever, ou como o próprio texto refere: “se tudo vai bem, também a aprendizagem da lecto-escrita vai bem.” Aí o autor contrapõem esta visão de sujeito como mero receptáculo de informações, onde ele espera passivamente que alguém que possui um conhecimento o transmita a ele, por um ato de benevolência; ao sujeito que a teoria de Piaget nos apresenta, que é um sujeito cognoscente, que busca adquirir conhecimento, que procura ativamente compreender o mundo que o cerca, e tenta responder os questionamentos que este mundo provoca. Ou seja um sujeito que aprende através de suas próprias ações sobre os objetos do mundo, e que constrói suas próprias categorias de pensamento ao mesmo tempo que organiza seu mundo.
O texto também critica as teorias atuais onde os sucessos da aprendizagem são atribuídos aos métodos e não ao sujeito que aprende, o que segundo o autor seria inaceitável, pois é inato a criança começar a classificar, e ordenar os objetos de seu mundo cotidiano. O que a meu ver é simplesmente afirmar que todo ser humano é capaz de aprender, e construir o conhecimento, pois toda criança é curiosa e avida por aprender, porém esta supervalorização de métodos e formulas pré-fabricadas para o aprendizado, que muitas vezes desestimulam a criança, que de certa forma não vê sentido, num processo burocrático de ensino.
Ainda neste sentido, o texto faz um paralelo entre o aprendizado de cálculo elementar e lecto-escrita; onde Piaget em seus estudos, sobre a aquisição das noções numéricas elementares desconstrói a concepção da ”matemática da primeira série”, alegando que o pensamento lógico é inato a criança, não necessitando adquirir os instrumentos que lhe serviriam para mais tarde adquirir outros conhecimentos. Questionando por analogia até que ponto é sustentável a ideia de que se tem de passar pelos rituais de “ma-me-mi-mo-mu” para aprender a ler? E qual é a justificativa para se começar pelo cálculo mecânico das correspondências fonema/grafema para então se proceder, e somente então, a uma compreensão do texto escrito?
Neste aspecto em questão o autor percebe uma prática pedagógica bastante dissociadora, onde muitos docentes são piagetianos na hora da matemática, e associacionistas na hora da leitura. Criando uma dicotomia nas concepções de aprendizado na própria criança, onde uma hora a criança é vista como criadora, ativa e inteligente, e outra como passiva, receptiva e ignorante.
O texto menciona ainda que na teoria de Piaget, o conhecimento objetivo aparece como uma aquisição, e não como um dado inicial. Aquisição esta que possui um caminho não linear, onde não nos aproximamos dele passo a passo, juntando peças de conhecimento umas sobre as outras, mas sim através de grandes reestruturações globais, algumas das quais são “errôneas” (no que se refere ao ponto final), porém “construtivas” (na medida em que permitem acender a ele), sendo esta noção de erros construtivos é essencial.

Diante dos argumentos expostos no texto, posso afirmar que as analogias feitas quanto a aplicação da teoria de Piaget no ensino-aprendizagem da leitura e da escrita, são bastante pertinentes, pois acredito que o educador também é um eterno aprendiz, possuindo também a necessidade inata de se questionar, aprender, e reformular seus saberes e convicções. E que o ensino não deve ser entendido como um conjunto de fórmulas e métodos burocráticos, destinados a doutrinar os alunos, para reproduzirem um conjunto de conhecimentos decorados, e que sim o foco do ensino deve ser o aluno, e suas habilidades inatas de aprender, criando e recriando meios, que estimulem a curiosidade e sede de saber do aluno, possibilitando que este construa um conhecimento que lhe faça sentido, e tenha significância em seu mundo.

Autora: Denise Machado Moraes